(trecho)
1
– Aonde vais pela alta noite adentro?
– Encontrar-me com quem me é vida e morte.
– E não tens medo de sair tão só?
– Sozinha? Eu? Se vai comigo o amor!
*
2
Eu disse "Deixa-me em paz",
a atormentá-lo de amor.
Levantou-se o meu amado,
e foi-se embora enfadado.
Que jeito com os homens ter?
Tão duro, sem coração,
e eu ardo em baixos desejos
do falso ardor dos seus beijos.
Minha amiga, que fazer?
*
3
Ao ver sua boca ao pé da minha boca,
desviei o olhar. E as mãos pus nos ouvidos,
quando as palavras dele retiniam.
Também escondi com as mãos o suor de enleio
que a fronte me perlava. Tentei tudo.
Mas que fazer, quando senti que as vestes
por si caíam por meu corpo abaixo?
*
4
Esmagados no abraço os seios dela,
a pele tremia-lhe, e entre as suas ancas
do amor a seiva oleosa transbordou.
"Não, meu querido, outra vez... não... oh, deixa-me
descansar", pedia num suspiro.
E dorme? Ou morre? Ou se desvaneceu
dentro em meu peito? Ou não é mais que um sonho?
Fonte:
Poesia de 26 Séculos. Tradução de Jorge de Sena. Porto, Ed. Inova, 1971.
No comments:
Post a Comment