Monday, May 14, 2007

Velha novidade

Antes tudo era novidade, e tudo parecia ser eterno. Com essa premissa, foi fácil abandonar o momento atual em busca do novo de novo, acreditando que sempre teria por perto toda a magia do início. Ficou fácil esquecer, deixar para depois aquela frase a ser dita, aquele gesto a ser feito, em troca de desejos mais recentes, mais imediatos.

Assim, foi lhe escapando como água entre os dedos tudo o que até pouco tempo estava bem ao seu alcance. À medida em que percebeu esta subtração, um vazio foi se apoderando de si. O novos preenchimentos simplesmente desapareceram e ele não sabia explicar o que havia acontecido. Chegou a saborear o momento com euforia, acreditando ser mais uma nova emoção. E por um lado, até podia ser.

Mas o tempo foi passando cada vez mais depressa e ele se viu completamente só, perdido, longe de seus desejos. Exigia tudo de volta, como era antes. Não entendia como tudo mudara de repente. Queria mais uma chance para curar o arrependimento...

Era chegada a hora de assumir seus erros, seu desdém às tantas coisas que deixara inacabadas. Constatou que não haveria mais como se corrigir. Mas acertar agora e daqui em diante talvez o livrasse da culpa do passado incompleto. E finalmente entendeu: jamais o teria de volta.

Aceitou-se.


Aceitar o tempo

Perceber a chegada dos novos e bons momentos e vivê-los a seu tempo, dando-lhes o valor que merecem no mesmo instante em que são experimentados, com a lucidez de que o fim chegará. Compreender também a sua partida, e deixar a onda passar na forma tão natural como veio.


texto de: Lediana Aquino
lido por: Lediana, Guilherme, Joana e Marília
na roda de: 12/05/2007

1 comment:

bruno reis said...

Legal cê ter editado as coisas aqui, Lediana :)

E sim, já tinha dito e repito, gostei muito desse texto, o Oscar Wylde diz que a arte reflete o espectador e não a vida, e com esse texto foi bem o que aconteceu. Como é uma narrativa que apresenta os fatos como foram sentidos e não objetivamente o que aconteceu afinal, o texto deixou espaço, aliás, conduziu minha leitura para uma reflexão sobre mim mesmo. bem interessante, além de não propor uma solução fácil ou leviana :)