Tuesday, May 15, 2007

18º Encontro Literário Por MAIS Leitura

Não vamos perder as contas... Nossa última "Roda Real" de leitura foi a de número 18, no sábado, dia 12 de maio de 2007!

Antes, uma observação: passamos batido no 17º encontro? Não! Quem disse que temos que seguir a ordem cronológica? Na arte não há regras! Portanto, Em breve poderemos relatar e ler como foi a Roda de leitura em homenagem à nossa Fortaleza. Só não o faço porque infelizmente cheguei no finalzinho e não sei detalhes do que rolou antes de minha chegada... Quem esteve desde o começo ainda pode postar aqui, que tal?

Nossa roda gira, gira... O tema desse encontro foi a apresentação de textos autorais. Tivemos participantes novos e veteranos, assíduos e itinerantes... Alguns trouxeram seus textos para serem lidos, outros apenas vieram ver e ouvir. Por MAIS Leitura é isso: diversidade, liberdade, boas-vindas e braços abertos para todos os interessados!

Abaixo segue a seqüência dos textos que foram lidos. Alguns possuem links para quem quiser conferir o texto na íntegra. Fiquem à vontade!


1. Começamos com Lediana lendo 2 textos seus: Velha Novidade e Aceitar o tempo. Logo após o texto rodou foi novamente lido por Guilherme, Joana e Marília.

2. Guilherme leu os seus textos: Velocidade e Jogo Eletrônico

3. Para ilustrar uma idéia durante a discussão sobre o texto de Guilherme, Ary leu o texto Canção 9, presente no encarte do cd "Ode descontínua e remota para flauta e oboé - de Ariana para Dionísio", parceria de Zeca Baleiro (músicas) e Hilda Hist (letras).

4. Alan leu o texto Lacuna, de autoria de Ary.

5. Ítalo leu mais um texto de Ary: Arqueologia.

6. Joana trouxe um texto seu: Tarefa de casa, que foi lido por Ítalo.

7. Marília leu o conto Um jazz, de sua autoria.

8. Bruno leu o seu texto Não tem título, sobre um amor felino.

9. Finalizando a roda, Lara leu um texto seu, sem título, que falava sobre um momento, um caminhar, barulho folhas secas sendo pisadas e luz do sol...

JOGO ELETRÔNICO

Caminhava em passos concentrados pelo centro da urbe, ausente de si ou dos outros. Um rapaz a pega pela mão e sai correndo lhe arrastando. As primeiras pessoas que presenciaram a cena, a fizeram de forma dispersa, mas à medida que o cortejo da dupla ia passando, foi-se formando duas colunas condensadas de gente perfilada, e no meio o corredor por onde os dois seguiam. Parecia que o contingente populacional ali próximo previa a corrida, e se mostrava compenetrado na performance. Os motoristas antevendo a passagem paravam imediatamente, a fim de que a trajetória não sofresse nenhuma interrupção. A moça que de início nada pôde fazer, pois era frágil para subverter a instantaneidade violenta de seu parceiro, agora se dispunha totalmente inerte para pôr um fim naquilo, pois não pretendia conspirar contra o empenho do seu guia e nem decepcionar os espectadores. Já haviam percorrido uma distância considerável, a mulher extenuou-se e cada vez mais era arrastada pelo estranho, pois parecia que não tinha forças nem para andar. Quando alcançaram aquela rua, o cara põe um fim à trajetória retilínea, dobrando na mesma. Depois de mais alguns metros, ele para, larga a garota e se senta. Sua cúmplice faz o mesmo. Viu que as pessoas se dispersaram, e num átimo de tempo impossível de captar, o corredor se misturou à multidão. Volta ao seu ponto de origem. No caminho um indivíduo lhe oferece água. Ela teve uma certa repulsa. Ao chegar, seu algoz ou redentor lhe aborda, e dá início novamente ao itinerário.


texto de: Guilherme Linhares
lido por: ele mesmo
na roda de: 12/05/2007

VELOCIDADE




____________________Carros passam. __Ônibus chegam. __ Trens



rasgam. _ Transeuntes atravessam._ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _Pixelsconfiguram i m a g e n s serevezam.



____________Notícias são paisagens.



O meu olhar inerte contrasta com a mobilidade. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

texto de: Guilherme Linhares
lido por: ele mesmo
na roda de:: 12/05/2007

Monday, May 14, 2007

Não tem título

Sabe como ama um gato
um amor que não é fácil
e s'indolor

um amor não automático
um amor que indiferente
convivência sutilmente
todo o dia
e vela (`)a noite

meu deus como é bonito
que brilho é esse
de sol dentro da noite
quando tu me olha assim
tão penetrante indiferente

notar
depois de um dia inteiro
o gato
imóvel em cima da cama
ao lado do jarro das flores do armário

como pode amar assim um gato


texto de: Bruno Reis
lido por: ele mesmo
na roda de: 12/05/2007

Velha novidade

Antes tudo era novidade, e tudo parecia ser eterno. Com essa premissa, foi fácil abandonar o momento atual em busca do novo de novo, acreditando que sempre teria por perto toda a magia do início. Ficou fácil esquecer, deixar para depois aquela frase a ser dita, aquele gesto a ser feito, em troca de desejos mais recentes, mais imediatos.

Assim, foi lhe escapando como água entre os dedos tudo o que até pouco tempo estava bem ao seu alcance. À medida em que percebeu esta subtração, um vazio foi se apoderando de si. O novos preenchimentos simplesmente desapareceram e ele não sabia explicar o que havia acontecido. Chegou a saborear o momento com euforia, acreditando ser mais uma nova emoção. E por um lado, até podia ser.

Mas o tempo foi passando cada vez mais depressa e ele se viu completamente só, perdido, longe de seus desejos. Exigia tudo de volta, como era antes. Não entendia como tudo mudara de repente. Queria mais uma chance para curar o arrependimento...

Era chegada a hora de assumir seus erros, seu desdém às tantas coisas que deixara inacabadas. Constatou que não haveria mais como se corrigir. Mas acertar agora e daqui em diante talvez o livrasse da culpa do passado incompleto. E finalmente entendeu: jamais o teria de volta.

Aceitou-se.


Aceitar o tempo

Perceber a chegada dos novos e bons momentos e vivê-los a seu tempo, dando-lhes o valor que merecem no mesmo instante em que são experimentados, com a lucidez de que o fim chegará. Compreender também a sua partida, e deixar a onda passar na forma tão natural como veio.


texto de: Lediana Aquino
lido por: Lediana, Guilherme, Joana e Marília
na roda de: 12/05/2007

Sunday, May 13, 2007

Um jazz - ao sr. Bechet tocando.

Deslizou passo a passo na calçada ao som do jazz, sabia que devia chegar ao teatro. Haviam marcado, o show era cedo e dessa vez tão, mas tão importante, que tivera medo. Arrumou o violoncelo, afinado a custo, e não resistiu a uns goles e copos: bebeu pra relaxar e acabou indo naquele estado. Deslizando passo a passo, sabendo já de antemão do atraso óbvio, talvez pusesse tudo a perder. Mas não: ligaria e diria “façam sem mim”. Claro. E assim perdia o emprego.

Nervoso, bebia mais. E o jazz, meu Deus, o jazz era o delírio, queria tocar a peça o quanto antes, mas e se errasse algo? Estariam todos lá. Pensava, no entanto, que a luz, aquela luz, sempre o cegava. Que diferença, não via ninguém, e aí tinha um risco: se perdesse a marcação, não veria mais nada, nenhum dos companheiros. Em seguida, pensava que bobagem, “um músico experiente, tantos espetáculos, ensaios todos os dias, não tem nada a dar errado”.

E deslizava uns minutos confiante, até perceber que não sabia mais aonde ia. A mulher, antes de deixá-lo noite passada, sentenciara exatamente isso, que ele, o grande músico, já não sabia mais. Aonde ia, o que queria, o que dizer. Frases cruéis ela dissera, ele fingindo não ouvir. Antes ainda de fechar a porta, ela arriscara uma frase de efeito (e, ele observou, “mais sem jeito que a porta”),

- Aprenda a perder pra não perder a si.

Continuou fingindo até dormir. E dormiu sem sonhos.

Acordou sem a mulher do lado e, riu, “sem a mulher, mas com uma senhora ressaca”. Como de hábito, ainda sem comer, foi tocar. Sabia que a mulher (como a chamaria agora? Ex?) tinha razão: ele emagrecia progressivamente e só as olheiras prosperavam. Nem a barba lhe crescia mais, os cabelos caíam ralos. Apesar de bom músico, todos sabiam, não recebia mais propostas nem idéias bonitas dos amigos. Eles tinham medo das constantes neuroses do artista.

Neurose, repetia, fora isso o que dissera a analista. E grande coisa, pensava, naquela roupa sufocada, louca era ela, julgando por detrás dos oclinhos meio mundo a desocupada... E fora embora, ignorando mulher, analista, remédios e recomendações, tinha mesmo um grande espetáculo a montar. Tinha? Há quase um ano sem apresentar-se, mas ninguém precisava saber.

Pensava nisso esparsamente ao deslizar. Vontade de deslizar-lhe os dedos pelas cordas que nem Charlie Parker domava o sopro, ah, o Bird! Quem dera ter tocado com ele, sonho antigo. “Morreu dois anos antes de eu nascer, devia ter me esperado”.

Bessie! Meu Deus, estava ficando louco? Tocavam Bessie na esquina, então o mundo tinha jeito (e o som da esquina, num posto, era qualquer coisa menos jazz). Um mendigo pediu dinheiro, ele sorriu e, estando tonto, sentou-se de qualquer jeito, tomando só o cuidado com o querido amigo – a caixa tinha que estar intacta, guardava-lhe a alma.

- Você ouve, ouve?

O mendigo não responde, se não tem dinheiro nem comida, ele pensa, “sai do meu caminho, ô seu doido”. Doido, pensa ainda, pra estar de terno e sentado na lama. E, em seguida, “se é doido...” e já calcula as vantagens.

- Escuta, você sabe onde fica aquele teatro?
- Tem teatro aqui não, meu chapa.
- Não?!

Mas ele já sabia. Não queria mais chegar, queria só acompanhar a Bessie. Tonto, sim; doido, não. Se pensavam que ele não podia, veriam já. Ele, o grande, levantando da calçada e subindo ao palco.

- Ora vejam. Nunca vi público maior, perdi até o medo.

O mendigo ria do homem falando sozinho, ainda mais que descobrira com ele uma garrafa e aquela já era sua – ao menos isso.

E o senhor músico, diante do público, sacou da sua arma, ajeitou a flor na lapela, um “Boa noite, Bessie”, pôs-se na melhor posição que pôde e tocou finalmente a sua música. Sua última música.


texto de: Marília Passos
lido por: Marília e Ary
na roda de: 12/05/2007

ARQUEOLOGIA

Havia aqui com certeza
uma consciência
,poderíamos dizer assim
desse modo,
no uso do espaço.

A estrutura
(em verdade um grande compartimento
em que se ramificam
outros três)

parece que abrigou seres vivos.


texto de: Ary Salgueiro
lido por: Ítalo
na roda de: 12/05/2007

LACUNA

Os inocentes foram os primeiros a descobrir o mal,
a criar o mal.
Porque nada surge
de ausências
e porque não é ausência
a omissão, a passividade,
em suma, qualquer ausência.

E decobrir, criar, o mal
é uma questão de esperar e só esperar.

Porque também o vácuo não existe
e não há qualquer espaço que um sentimento humano
não preencha na ausência de outro.


texto de: Ary Salgueiro
lido por: Alan
na roda de: 12/05/2007

Tuesday, May 08, 2007

Reformas no PML Textos

Esse blogue é o registro dos textos que são lidos nas Rodas de Leitura organizadas pelo grupo Por Mais Leitura no saguão da Biblioteca Leonilson, no Centro Cultural Dragão do Mar de Fortaleza. Para informações sobre a programação: http://www.dragaodomar.org.br/index.php?pg=p_literatura.

Digo isso para justamente para informar que em breve o PML Textos deve passar por uma grande e ampla reforma. Mais do que um mero registro do que acontece nas Rodas de Leitura da Leonilson, queremos inauguras aqui um novo espaço e uma nova dinâmica para a leitura. A idéia é que se crie uma Roda de Leitura Virtual, e por isso até mesmo o nome do blog e o endereço devem mudar. Em vez de PML Textos, teremos a Roda Virtual.

E qual seria a diferença, afinal? É simples, em vez de serem publicados apenas os textos que já foram lidos na Roda convencional, queremos que as pessoas enviem textos próprios e se leiam. Só que há uma pequena exigência para que você tenha seu texto postado: para isso, é preciso primeiro ler o texto dos outros. E como teremos controle disso? Bom, pra registrarmos que você leu, somente através de um comentário relevante no texto de outro autor. Não precisa ser algo muito elaborado, mas não vale um simples ''gostei'' ou ''legal''. É preciso mostrar que você prestou atenção ao texto e fazer comentários sobre o tema, o estilo, o que gostou, enfim, dar um feed back, fazer uma crítica, elogio, etc. Não precisa comentar em todos, é claro, pois teremos muitos textos aqui em breve, então opção não vai faltar.

O primeiro texto que vai ser postado será o de alguém que já tenha participado da Roda ao vivo, para que seja justo. Em seguida, as outras pessoas, mesmo que não tenham participado nenhuma vez do encontro, vão poder enviar seus textos para o e-mail rodavirtual@gmail.com. Caso o autor tenha comentado em algum texto(o primeiro a ser postado ou os demais que já estão aqui), será devidamente colocado no blog, quando terminada a reforma!